As palavras abaixo são da Norma Braga . Uma irmã que tem edificado a vida de muitos (a minha, inclusive) e passa por um momento particularmente difícil da vida. O texto é para aprendermos, orarmos e nos animarmos em nossas lutas, que talvez não sejam tão pesadas quanto imaginamos ao olharmos as lutas de outros irmãos. Deus fortaleça a sua vida, irmão e amigo:
Dores da Maternidade I
Logo no início da gravidez, detectei um sangramento. A médica acusou uma ameaça de aborto espontâneo, recomendando duas doses diárias de hormônio e repouso absoluto — ou seja, cama, cama, cama. Obediente, por mais desconfortável que me sentisse, eu não me sentava nem para comer. Recebemos visitas, os irmãos oraram, amigos e família ligavam preocupados. Foi difícil viver cada dia sabendo que podíamos perder o bebê, mas seguimos confiantes em Deus. O sangramento passou.
Agora, em repouso moderado, com 14 semanas e meia de gravidez, recebo mais uma notícia ruim, desta vez bem ruim: um “edema generalizado” em meu bebê, ou seja, uma hidropsia fetal, doença de altíssima mortalidade e às vezes nenhuma causa detectável. Na internet, encontrei grupos de apoio em que há algumas histórias com finais felizes — os bebês que sobrevivem são considerados “milagres”.
Depois do diagnóstico, fomos à médica obstetra e, descartadas outras causas (contaminação por vírus e conflitos entre meu Rh e o do bebê), sobram defeitos congênitos ou algum tipo de cardiopatia. Por enquanto, nada podemos fazer: o feto precisa ficar mais maduro, pelo menos 16 semanas, para ser examinado novamente. Até lá, o óbito é uma possibilidade nem um pouco remota. O impressionante é a raridade do fenômeno: hidropsia fetal por tais causas acomete um em seis mil bebês!
Diante de tais notícias, o que fazer? A médica comentou conosco que a maioria dos pais, escorados em uma aterradora impotência, costumam decidir incontinenti pela interrupção da gravidez. Sabendo que somos cristãos, no entanto, ela já intuía nossa negativa ao procedimento, e se viu tranquilizada ao confirmar nossa decisão final: aguardaríamos os fatos e confiaríamos em Deus. E nisso nós O glorificamos porque, praticamente “sem querer” — sem intenção deliberada —, demos a ela um poderoso testemunho, por causa do que Ele já realizou em nós.
Saindo do consultório, André e eu conversamos sobre o absurdo raciocínio que subjaz à decisão do aborto nesses casos: se o feto está doente, a solução é matá-lo de uma vez? Por que optar por medida tão drástica, se tudo pode acontecer — inclusive a remissão espontânea dos sintomas, sem qualquer explicação? Imagino que, nesses momentos, ocorre algo bastante humano, pecaminosamente humano: se nos sentimos impotentes, melhor controlar alguma coisa, ainda que seja a morte. No final, para consternação e culpa gerais, muitas vezes se descobre que o aborto não era necessário, já que o bebê, ao ser retirado à força do ventre, surge saudável, contra todos os prognósticos. Mas somente o cristão, se de fato desistiu de tentar controlar o rumo dos acontecimentos e se entregou ao Criador e Sustentador de toda vida, pode chegar a tais conclusões.
E no meio da tormenta acontece aquela coisa inusitada que apenas os cristãos podem experimentar: eu e André percebemos com alegria que a fé que Deus nos deu e aprimorou ao longo dos anos nos impede resolutamente que hoje nos torturemos com a clássica e destrutiva pergunta: “Por que nós, Senhor?” Afinal, Jesus lança luzes sobre o sofrimento não respondendo à pergunta “por quê?”, mas sim “para quê”: “para que se manifestem [em quem sofre] as obras de Deus” (João 9.3). E, ainda que nosso bebê não seja curado, sabemos que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8.28). Há propósito no sofrimento, e seu fim é sempre duplo: glorificar a Deus e nos abençoar. Como firmar-se nessa certeza? Não pela força de vontade: tal compreensão não é humana, mas sim um fruto exclusivo de Sua graça.
Que nesse final de ano, leitor, esse seja meu desejo de Natal a você: que contra todas as expectativas negativas, todas as estatísticas e todos os maus prognósticos, você possa colocar sua confiança inteiramente em Deus, dando toda a glória “Àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós” (Efésios 3.20). Amém!
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